Saltei de um capão de mato que nem touro atropelado
Rasgando a ponta do chifre de goela aberta gritando
Vou esparramando mutuca, espatifando cupim
Arranco o tatu da toca com raiz de guamirim
E trago terra no lombo do chão bagual donde vim
Lá me vou costeando o cerro venta aberta farejando
Abro picada a chifrada, rio cheio cruzo nadando
Num taquaral faço pouco só pra esconder da geada
Pra comer sal do rodeio levanto de madrugada
Bebo água na vertente de uma tapera assombrada
E assim vou levando a vida que este mundo me oferece
Coisa ruim não arrodeia se me arrodear apodrece
Curti meu couro no tempo na carcaça do relento
Não tem sovéu cabeludo que num golpe não rebente
E no mundo pra ser livre eu sou parceiro do vento
Quebrei pedra a cabeçada pra feder chifre queimado
Me tapo de marimbondo quando amanheço aliado
Corvo não me fura os zóio, meu talento ninguém rouba
Não dobro meu espinhaço nem com veneno de cobra
E é no segredo do mundo que alguma coisa me sobra
E o dia que o Sol esquenta eu vou sestear num perau
Ouço o canto da cigarra e o grito do pica-pau
Aí minha ideia se solta buscando sabedoria
Nos campos do pensamento vou pastar sabedoria
Por que o tal de bicho homem só pensa em soberania