Sempre que o dia madrugava em cores
trazendo raios de manhãs douradas
eu convidava meu cachorro amigo
e já saia para as campereadas.
Era o primeiro a galopar em frente
nessa rotina da lida campeira
velho parceiro de dobrar ventanas
e a terneirada botar na mangueira.
Mas o cansaço do rigor do tempo
me fez tão cedo fugir do relento
larguei o campo, o cusco e o pingo
e fui prá o alto de um apartamento
larguei o campo, o cusco e o pingo
e fui prá o alto de um apartamento.
Foi tão difícil pra um peão campeiro
os entre-choques de um momento brusco
em frente aos olhos enxergava o gado
e meus ouvidos a escutar meu cusco.
Caiu a noite mas não veio o sono
e meu destino a me pregar laçaços
na sensação de ouvir as pisadas
do meu cachorro que seguiu meus passos.
Por toda a noite o edifício inteiro
ouviu a voz de um cão a ganiçar
na madrugada aumentou seus gritos
me convidando para camperear.
Desci do prédio e busquei a estrada
rumos dos campos de minha existência
e libertei a minha alma presa
pra que voltasse pra sua querência
a libertei a minha alma presa
pra que voltasse pra sua querência.
Foi tão difícil pra um peão campeiro
os entre-choques de um momento brusco
em frente aos olhos enxergava o gado
e meus ouvidos a escutar meu cusco.