Eu tenho um mundo guardado comigo
Abro a porteira quando quero entrar
Meu pai andando no carreador
Indo com a prole a vida enfrentar
Cheiro de mato, aroma espalhado
Na primavera pelo cafezal
Numa florada de cair o queixo
Eu tão criança, mas jamais esqueço
Do nosso almoço caprichado feito
Que a nossa mãe levava no embornal
Papai tocava todo fim de tarde
Um violão velho e já sem cor
Mas cada nota saía perfeita
Em cada acorde dedilhava amor
Fogão de lenha esperança acesa
Vida caipira de se orgulhar
Em comunhão com a mãe natureza
A gente não deixava a tristeza
Enfraquecer a grande fortaleza
Pois era um reino o nosso lugar
Aqui nos braços da dona lembrança
Vejo o menino que deixei por lá
Minha infância ficou nas paisagens
Quando saí não quis me acompanhar
Nessas memórias ele corre solto
Vive feliz, não para de brincar
Assim parece que o tempo não finda
Meu pensamento em idas e vindas
Faz desse jeito eu voltar ainda
Ao velho berço que me fez sonhar
Hoje em dia vivo de improviso
Invento risos para não chorar
Pela porteira do meu peito vejo
Minha família caipira passar
Um leve vento vai soprando o pó
Deixando claro o rastro da saudade
Enquanto o tempo vai rolando as pedras
Não me encontro sem a minha terra
Feito um soldado ferido de guerra
Morrendo aos poucos aqui nesta cidade.
Composição: Ivan Souza