Mãos sujas do suor, mãos negras do trabalho
Penhor de gente humilde, o seu melhor brasão
São quem maneja a serra e quem empunha o malho
São quem desbrava a terra e quem semeia o pão
Mão queimadas pelo sol das ceifas, dos trigais
Ungiram-se de mosto nas dornas dos lagares
Andaram na montanha a derrubar pinhais
Nas galeras do sonho atravessaram mares
Ter as mãos sujas do trabalho
É ser alguém
O que só pode acontecer
Aos homens sãos
Tenho as mãos sujas, que me importa
Ainda bem
Mas ai de quem não tem coragem
Para sujar um dia as mãos
Mãos sujas dos metais e do carvão das minas
Mãos que sabem rezar ao toque das trindades
Mãos que na rocha negra e dispera, das colinas
Ergueram catedrais, aldeias e cidades
Mãos que um dia na França, olhando a pátria-mãe
Pegaram num clarim, tocando a unir fileiras
Andaram arranhando a terra de ninguém
E amassaram com o sangue o bairro das trincheiras