Fui nascido no interior
Numa casinha de palha
Aprendi desde criança
Que só vence quem trabalha
Quem tem fé e devoção
Os seus planos nunca falha
Pensando nessas palavras
Fiz da vida uma batalha
Mas nem sempre os vencedores
Recebem palmas e flores
Ou conquistam a medalha
Já lutei com sacrifício
Pra poder sobreviver
Na longa escola da vida
Sei ganhar e sei perder
Num estouro de boiada
Senti a terra tremer
Já peguei mestiço a unha
Pra poder me defender
Neste mundo, meus amigos
Aprendi ver o perigo
Sem precisar me esconder
Já passei horas amargas
Perdido nas sertanias
Enquanto a sorte judiava
Mais eu me fortalecia
Meus prantos já misturaram
Com a chuva que caía
Cheguei a salgar a boca
Com o suor que descia
Já matei a minha sede
Com caldo de frutas verdes
Que na mata existia
Já contemplei o luar
Pousando sobre a macega
O peso de uma cruz
Só calcula quem carrega
Mas o homem que trabalha
Tropeça, mas não sossega
Renova sua esperança
Todas às vezes que escorrega
Quem tem um objetivo
Luta enquanto está vivo
Padece, mas não se entrega
Mesmo sofrendo bastante
Nunca pensei no pior
Cada vez mais eu sonhava
Com um futuro melhor
Quem colhe o que semeia
Sente um prazer maior
Os mandamentos da vida
Eu agora sei de cor
Hoje moro na cidade
E sinto a felicidade
Habitando ao meu redor