Um dia desse passado
Pra cantar eu fui chamado
Numa festa do divino
No avião fui embarcado
Sentou ali do meu lado
Um homem muito grã-fino
Dentro de uma sacola
Eu levava minha viola, companheira de função
E o grã-fino admirado
Até mesmo incomodado me pediu explicação
Perguntou nesse momento
Que tipo de instrumento eu levava na sacola
Se era violão ou violino
Eu respondi pro grã-fino
Isso aqui é minha viola
O homem ficou surpreso
Depois sorriu com desprezo
Começou a me explicar
Viola é um instrumento
Usado em outros tempos
Na fazenda e no arraial
É um instrumento caipira
Que era usado no catira
Quando o povo era atrasado
Mas agora é diferente
Nosso povo é inteligente
E o mundo tá adiantado
Já foi tempo de congada
Moda de viola e toada
Cateretê e o tal fandango
Não seja bocó de mola
Deixe de tocar de viola
Agora é rock-and-roll e tango
Pelo rádio estão falando
Que o norte americano já chegou até na lua
Seja esperto meu rapaz
Aprenda como se faz, viola é bobagem sua
Eu senti uma dor na alma
Tentei manter minha calma
Pensando no que ia dizer
Mas senti ferver meu sangue
Pensei, nem que ele zangue
Mas tenho que responder
Nossa classe é bem distinta
Mas você não me desminta
Não conhece um violeiro
Prefere rock-and-roll e tango
E não gosta de fandango
Só adota o estrangeiro
Aí que está o erro vosso
Quem despreza o que é nosso
Não é um bom brasileiro
Das raízes sai chibata
Cururu e corta-jaca e da viola o violeiro
Sou folclorista e juro
Sou um brasileiro puro
E honro a minha bandeira
Quem achar que estou errado
Se estiver incomodado
Vá pra terra estrangeira
Você que falou da lua
Pois se é vontade sua então
Por que você não faz
Veste logo este seu terno
Vá pra lua, vá pro inferno
E deixe o caipira em paz