Fui pro sertão pra rever a minha terra
Encontrei meu pai na guerra sem fuzil e sem canhão
O velho estava num começo de semana
Lá naquele mar de cana manejando seu facão
Ele me disse, vai dizendo que eu escuto
Quando estou nesse chão bruto é pesada a obrigação
Só paro um pouco no almoço e no café
Mesmo assim como de pé sob a mira do patrão
O que eu ganho nem dá pra comer mandioca
Meu trabalho dou em troca de comida e moradia
Mas agradeço o meu Deus por sua bondade
Por saber que nessa idade ainda tenho serventia
Você bem sabe que eu tenho setenta e seis
Dia catorze do três foi aniversário meu
Tudo é bobagem, você sabe que eu não ligo
Mas pensei aqui comigo, o meu filho me esqueceu
É de doer naquela cana como escravo
Disse meu patrão, tá bravo falta cana pra moê
E do engenho vou maiá feijão na vara
Eu já vou, não me repara, logo a gente se vê
Quantas vezes quis trazer meu pai comigo
Mas ele é bem antigo e de lá não quer sair
Quem é matuto como é meu velho pai
Daquele sertão não sai, não adianta insistir