O povo de hoje em dia
Vive cheio de maldade
Não se encontra facilmente
Um amigo de verdade
No meu tempo de carreiro
Eu tinha muita amizade
Pois vivia viajando
Pra fazenda transportando
O progresso da cidade
Pra guiar minha boiada
Tive o melhor candeeiro
Um menino surdo e mudo
Esse foi meu companheiro
Se chamava Zé Neguinho
Era filho de um tropeiro
Enjeitado pelos pais
Eu criava o bom rapaz
Como filho verdadeiro
Eu saí de Rio Preto
Levando carga pesada
Meu velho carro chorava
Na subida e na baixada
Zé Neguinho lá na frente
Brincava com a boiada
Esperava chegar perto
Depois dava um pulo certo
Correndo na disparada
Contente naquela lida
Cumpria a nossa missão
Mas chegando na porteira
Da fazenda Promissão
O menino escorregou
Caiu e rolou no chão
Eu fiquei paralisado
Vendo o garoto esmagado
Sem a minha proteção
Minha vida de carreiro
Nessa hora se acabou
Naquele estradão deserto
Uma cruz ali ficou
Nunca mais tive alegria
Minha vida transformou
Até hoje não consigo
Esquecer daquele amigo
Que sempre me acompanhou