Andam palavras na noite
Cansadas de me chamar
Trago os meus lábios salgados
E algas no paladar
Aberta a porta selada
Sou pensada já não penso
Se a musa fica calada
Como dizer o silêncio
Inúteis os meus anéis
Já os troquei por poemas
Se hão de perder~se os papéis
Voam com as minhas penas
Só sei que neste destino
Vou atrás do que não sei
E já me sinto cansada
Dos passos que nunca dei
Ficou entre nós o tempo
Que fica uma andorinha
Deu-nos essa primavera
Porque deu tudo o que tinha
Ficou a morte caída
Antes do tempo no chão
E uma estátua dividida
Pela linha do coração
Há dias em que sou monja
Há outros em que sou fêmea
E embruxada na fogueira
Do amor ponho mais lenha
Como se eu já existisse
Antes do sol e da lua
E se a morte me despisse
E eu não me sentisse nua
Quando me derem por morta
Lágrimas nem uma pinga
Um trevo de quatro folhas
Tenho debaixo da língua
E nada de biografia
Senão a da lua nova
O que escreverem um dia
Os astros na minha cova