Nenhum Sonho se Entrega à Chegada
A cidade parece-me o campo / na avenida os carros a arar / no rio e na margem / passeio o tempo / contando em
desembarcar / o meu corpo que ferve / é por pouco tempo / a cidade é veloz a mudar / as janelas estão quase a
apagar / o escuro, o calor, é por pouco tempo / esfrio se for começar por nada / nenhum sonho se entrega à chegada /
acordada, eu vivi sonhando / lendo um livro que não sei ler / fecho os olhos de quando em quando / nem por sonhos
vou adormecer / agarrada à raiz e ao tempo / Tempo vai, tempo vem , sem se dar a ler / a cidade parece-me a aldeia
/ num só dia a igreja e o bar / à luz do neon brilha uma candeia / duas vezes a casa vou dar / promessas, promessas,
uma mão cheia / a cidade é feroz a atacar / já não é nem humano, esse olhar / um lobo e um lobo e uma alcateia /
mas o corpo assustado adormece / e a cidade, o campo parece / acordada, eu vivi sonhando / lendo um livro que não
sei ler / fecho os olhos de quando em quando / nem por sonhos vou adormecer / agarrada à raiz e ao tempo / tempo
vai, tempo vem e o luar a ver