Do tempo que eu fui peão
E eu nem gosto de lembrá
De um transporte que eu fiz
Lá de Goiás pra Cuiabá
Num dia de sexta-feira
Vejam só o que foi se dá
Quando a tarde foi caindo
Deu um forte temporá
Relampiava e trovejava
Clareando o mundo inteiro
O temporal foi deixando
Os animar em desespero
Nessa viagem nós levava
Quinhentos boi pantaneiro
E na frente caminhava
Um boi Fumaça traiçoeiro
Mesmo embaixo de chuva
Nossa viagem continuava
Por não ter lugar de pouso
Lá onde nós se encontrava
Meu filho era o ponteiro
E na frente caminhava
Repicando seu berrante
E a boiada acompanhava
Chegando numa porteira
Foi assim que aconteceu
Seu burro não encostava
E pra abri ele desceu
O boi Fumaça investiu
E o menino não percebeu
Nas guampa do pantaneiro
Pros ar ele suspendeu
Fiquei louco nessa hora
Quando meu filho gritou
Eu quis sarvar a sua vida
Mas já não adiantou
O chifre do boi Fumaça
Com seu sangue avermelhou
Minhas lágrimas sentida
Com a chuva misturou
Perdi meu filho querido
Nessa viagem traiçoeira
Mas guardei no coração
Suas palavras derradeira
Eu queria ser peão
Mas findou minha carreira
Papaizinho me enterre
Aqui perto dessa porteira
Abandonei essa lida
Meus prazer pra mim morreram
Mas não posso me esquecê
Daquele golpe traiçoeiro
Quando escuto um berrante
Me arrepia o corpo inteiro
Lembro no filho querido
E o tempo que eu fui boiadeiro
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)