Levantei um dia cedo
Sentei na cama chorando
Meu velho tempo de peão
Nervoso fiquei lembrando
Senti uma dor no peito
Igual brasa me queimando
Ouvi uma voz lá fora
Parece que me chamando
Eu tive um pressentimento
Que a morte na voz do vento
Ali tava me rondando
Eu saí lá pro terreiro
Lembrei as glórias passada
Me vi montado num potro
Galopeando nas invernada
Também vi um lenço acenando
De alguém que foi minha amada
Que há tempo se despediu
Pra derradeira morada
Tive um desgosto medonho
Ao ver que tudo era um sonho
E hoje não sou mais nada
Pobre de quem nesta vida
Na velhice não pensou
Ao me ver velho e doente
Um filho me amparou
Recebo tanta indireta
Da nora que não gostou
E meu netinho inocente
Chorando já me falou
A mamãe já deu estrilo
Diz que aqui não é asilo
Mas eu gosto do senhor
Neste meu rosto cansado
Queimado pelo mormaço
Duas lágrimas correu
Espelho do meu fracasso
É o prêmio de quem na vida
Não quis acertar o passo
Abri os olhos muito tarde
Quando já era um bagaço
Vejam só a situação, ai
De quem foi o rei dos peão
Hoje não pode com o laço
A Deus eu fiz uma prece
Pedindo pros companheiro
Que perdoe todas as farta
Desse peão velho estradeiro
Quando eu deixar esse mundo
Meu pedido derradeiro
Desejo ser enterrado
Na sombra de um angiqueiro
Para ouvir de quando em quando
As boiada ali passando
E o grito dos boiadeiro
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)