Eu nasci numa data feliz
Sem meu pai foi que eu me criei
Quinze anos de idade eu já tinha
Quando o grupo escolar eu deixei
Trabalhando na lida pesada
Minha mãe, viúva, sustentei
Enfrentando as misérias da vida
Fui lutando e nunca reclamei
O destino é traçado por Deus
E na luta da vida eu nunca fracassei
Me ajustei foi numa comitiva
Fui ganhando só trinta por mês
Nóis viajemo lá pra Mato Grosso
Na fazenda do seu Martinez
Meu patrão lá comprou uma boiada
Setecentos zebu javanês
Na contagem o mestiço Fumaça
Escapou foi no meio de três
Eu joguei meu laço de rodia
Lacei os dois chifre e as oreia eu sarvei
Fazendeiro ficou admirado
Me falou, faça isso outra vez
E mandou sortá um boi pantaneiro
Nessa hora meu laço aprontei
Quando o bicho pulou na mangueira
Atrás dele também eu pulei
Pra mostrar que eu sou guapo na lida
Foi de pealo que o boi eu lacei
Pantaneiro rolou na poeira
Segurei nas guampa e o laço eu tirei
Esta minha natureza
Não tem frio e nem calor
No mato sou ventania
No jardim sou um beija-flor
No campo sou cobra verde
Na viola cantadô
Dentro da água sou um dourado
E no laço sou laçadô
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)