Nas catacumbas da Pavuna Antonio Conselheiro
e a Baia da Guanabara que nem Juazeiro
Num Quilombo da Candelária ginga Ganga Zumba
com Seu Paulinho da Sanfona e com Nélson Zabumba
De repente, o oceano tinha todo ido embora
mandacaru brotou no chão da Marina da Glória
palmeiras de Dom Pedro ressecando a História
lacrimejam na poeira da memória do Rio
Olerê, olará, memória do Rio
Lá no galpão de São Cristovão, areia e purpurina
onde o poeta desfralda a bandeira da Divina
Saio no bumba pro Salgueiro ou lá pra Leopoldina
maracatuando Elizeth às cinco da matina
E, mais que de repente, o Rio de Janeiro mostra
o fundo da Lagoa feito uma ferida exposta
Um japonês pergunta onde é que fica a costa
e um barco do Greenpeace encalha em frente ao Leblon
Olerê, olará, ouço um velho acordeon...
É Quixeramobim? É Quixadá? Pirupiri?
Não
Catumbi, Recreio, Bonsucesso, Grajau
passo no Engenho-de-Dentro pra tomar uma Pitu
e vou danado pro Catete pra comer do seu angu
acarajé, mungunzá, tapioca, abará
caruru, vatapá
(mas sem os frutos do mar)
Olerê, olará, os frutos do mar
Lá no alto da Pavuna, Antonio Conselheiro
junto com São Sebastião e com Xangô guerreiro
assistindo Paquetá sair do seu desterro
vendo o Atlântico ser engolido pelo Aterro
E a Floresta da Tijuca toda sem nenhuma folha
feito cada olho d’água tivesse a vista zarolha
Quanto maior a sede menos me sobrava escolha
Dobrou o Português o preço da mineral
Olerê, olará (e nem é carnaval...)
É Quixeramobim? É quixadá? É Piripiri?
Não
Acordei com a boca seca na manhã tranquila:
O Rio virar sertão era a ressaca da tequila