Risquei na pedra do destino uma paixão tão candeeira
que me adoçou o desatino de ter sina perdigueira
feito licor de marrasquino pra quem é de bagaceira
Me fez viver o repentino como coisa derradeira
feito um menino pondo os olhos a primeira vez no mar
O nosso amor é uma esquina num deserto de poeira
O látex que determina a cicatriz da seringueira
Uma jangada nordestina para uma vida ribeira
A cangaceira vitalina dentro de uma cristaleira
O brilho oculto na retina quando um cego vai cantar
Foi tudo sempre por um fio pra acabar
e é essa hipótese de se desmanchar
de se sentir que está na beira
pra desabar da cumeeira
É nunca se cuidar
que faz a gente amar
o momentâneo a vida inteira
Nossa paixão é a purpurina no véu da porta-bandeira
tragando o sol que lhe ilumina na manhã da quarta-feira
É um moleque que rapina todo o papel da lixeira
pra reciclar a serpentina e eternizar a brincadeira
A chama de uma lamparina virando a luz do luar
Foi tudo sempre por um fio pra acabar ...