O dia já madrugava pra moldar bastos nos lombos
Num vento brandindo o pala bem desabado nos ombros
Por que este ano o inverno se acomodou por aqui
Mas não pega assim no más quem traz Rio Grande em si
Uma baia gaviona refugou bem na porteira
Mas meu gateado bragado pede o freio na mangueira
E o sol espia a campanha botando um gosto no mate
E vai quarteando a peonada pra mais um dia de embate
As esporas se despedem e se apartam pra cada lado
Aquerenciadas ao garrão das botas cano virado
Pois guardam pelas rosetas alguma balda de potra
Pra contarem no silêncio do galpão uma pra outra
Meu gateado pelo grosso mordendo o jogo do freio
Vai rangindo os "paysandú" que só descansa se me apeio
Trazendo pras campereadas algum verso mais sonoro
Arrinconando os estribos aos braços fortes dos lóros
Do vento sopra uma copla que do mato pede abrigo
Parece até que se perde repontando um sonho antigo
E o que vejo me basta pra esta vida de rural
Um quero-quero cantando e o gado lambendo sal
As armadas retovam tentos onde figuram rodilhas
E uma pampa vai na volta sustentada na presilha
Pois a lida assim tranqueia campereando a várzea do fundo
E o dia segue a passo no compasso do meu mundo