Um riso escancarado
De branco parafina
Na boca tangirina
O cego me fez
Ver mil Brasis de uma só vez
Nas fitas das Folias de Reis
Ô cego alucinado:
Barro marajoara
Na colcha de retalho
O cego me faz
Ver mil Brasis e ainda mais
Nas cianinhas dos carnavais
Vou de liforme branco
Na dorival jogada
Na asa da jangada
Eu vou por cima d'água
A namorada do céu
Sou herói de cordel
O cego quer ver
Alguém cantar em javanês
Aboio triste no entardecer
Cego surrealista:
Um trem de celofane
Trilhando um xilofone
O cego me faz
Ver nos vestidos dos varais
As prostitutas louras do cais
O mar desde Arraiolo
Na água pro monjolo
O fio da navalha
O couro da sandália
A talhadeira e o cinzel:
Cordas de um menestrel
Na carranca branca da barcaça
A garça da alma pousou...
Com licor do guapo genipapo
Um gaio papagaio eu sou...
De porre, num fogo romã de manhã
A saudade que eu trouxe
Me faz ver Oxum de bermuda
- Me acuda! - Fazendo windsurf
Na ponta de Itapoá
No rio Maracanã...
E o cego me diz
Que ela é feliz
Com tantos Brasis:
Um riso escancarado
De branco parafina
Na boca tangerina