Contenda
(Guinga e Thiago Amud)
Sou a dobra de mim sobre mim mesmo
Nesse afã de ganhar de quem me ganha
Tento andar no meu passo e vou a esmo
Tento pegar meu pulso e ele me apanha
Eita, sombra rival que me acompanha
Artimanha de enconsto malfazejo
Rodopiei, beijei o chão, cambei pra cá
Meu mestre rei foi Salomão, camará!
Dei um talho em meu próprio sentimento
Pra que o mundo fulgure na clareira
Que esse nervo me aviva o sofrimento
Que esse olho é motivo de cegueira
Ê, presença difusa, desordeira
Giro de furacão sem epicentro
Desafiei, puxei facão, ponguei pra lá
Vazei no peito esse intrujão, camará!
E vem pernada aí
Vem não, foi desvario
E vem navalha aí
Vem não, foi calafrio
A roda vai abrir
Quando eu cair
No vazio
Meu sangue arredio, arrevesado
Arranco e derramo em oferenda
Mas não ponho fim nessa contenda
Com meu coração esconjurado
Camará, Camará, Camará...
Sei de um rosto escondido no espelho
Bem depois do cristal iridescente
Entro no meu juízo e destrambelho
Entro no meu caminho e passo rente
Eita, angústia que vai minando a gente
Capoeira contra Pedro-Botelho
Serpentei, botei pressão, varei o ar
Parei no meio do desvão, camará!
E vem pernada aí
Vem não, foi desvario
E vem navalha aí
Vem não, foi calafrio
A roda vai abrir
Quando eu cair
No vazio
Camará, Camará, Camará...