Posição desconfortável
Coço o rosto pra mudar um pouco o foco
Pensamento preguiçoso
Tudo que demanda esforço não me prende
Entre um bocejo e outro
Goles de açúcar, água e cafeína
Amarrado a uma cadeira
Peça de mobília que sustenta toneladas de rotina
Mais um ano
Mais do mesmo
Trinta anos
Desespero
Eu quero me perder
Eu vou correr
E vou me jogar
Nada é mais insosso, entediante e entristecente
Do que ficar preso numa grande caixa de concreto
Reproduzindo o mesmo texto
Giro um parafuso e pago de esperto
Um mecanismo viciado
Repetindo gestos como um cão domado
Exponho todo o meu desgosto
A vida como um roteiro de cinema
Um tanto quanto pretensioso
Como quando o Caetano cita Lévi-Strauss em sua letra