Horacio fez fogo com chuva e dormiu nos arreios
Abriu as picadas agrestes que hoje são ruas
Timbrou mil estradas na pampa e varou passos cheios
Levando os sues sonhos nas tropas que nem eram suas.
Haracio estropiou seus trodilhos na estrada comprida
Gastou a existência no passo do gado em reponte
Amou as mulheres que achava, embora perdidas
Sem nunca voltar para vê-las, seguindo o horizonte.
Mas tudo o que tinha era o tino do oficio tropeiro
Quem parte questiona o motivo ser ter quem responda
Proseava com o próprio silencio que era parceiro
Tenteando o boeira das noites de ronda redonda.
O tempo se foi junto a tropa que nunca da volta
Fez de Horacio Pena o tropeiro, mais um deserdado
Às vezes do olhar uma sanga discreta se solta
E dá de beber a quem resta viver do passado.
A alma tropeira de Horácio hoje pena na terra
Por sobre um tordilho cansado já quase no chão
A tropo de ontem persiste, o gado inda cansado
E cruza por ele na estrada sobre o caminhão.
E Horacio que é pena respira a poeira da estrada
O mesmo caminho de outrora que abriu com os bois
Por ele sobrou a distancia entre o pouco e o nada
E o brete sem fim da lonjura buscando depois.