Vi brotar num galho seco
Uma flor do pessegueiro
E se foi com o vento norte
Que veio num desespero.
Era uma tarde de outubro
Quando deu a chuvarada,
Eu vinha seco e miúdo,
Alheio há dias na estrada.
No rancho do pessegueiro
Arrumei uma pousada,
Providência do acaso,
E a volta era encharcada.
Junto ao fogo do galpão
Acomodei meu pelego,
Varei a noite acordado
Pois não me vinha sossego.
Eu nunca tive querência,
Mas já estou acostumado,
Por não ter sonhos, não durmo,
Andejo assim tresnoitado.
No desjejum da manhã
Carne, pão novo e qualhada...
Faltava açúcar no mais,
Adoçamos com figada.
Gostaram de mim na casa,
Me deram changa pra uns dias,
Tivesse cerca alambrava,
Quisessem poço eu abria.
Ali me apeguei à terra,
À casa, aos bichos, à gente
E me enamorei de olhares
Pela vizinha da frente.
Com toda a força da alma
Vou cuidar cada pedaço
Deste sonho que o destino
Trouxe a sestear nos meus braços...
A felicidade é um bem
Que não há quem a descreva,
Mas é uma flor delicada,
Um vento forte nos leva