Eu fiz a maior proeza
Nas bandas do rio da morte
Com outro caminhoneiro
Traquejado no transporte
Fui buscar uma vacada
Para um criador do norte
Na chegada eu presenti
Que era dia de sorte
Depois do embarque feito só ficou um boi de corte
O mestiço era bravo
Que até na sombra investia
E a filha do fazendeiro
Molhando os lábios dizia
Eu nunca beijei ningüém
Juro pela luz do dia
Mas quem montar esse boi
Lhe tirar a valentia
Ganha meu primeiro beijo que darei com alegria
Vendo a beleza da moça
Meu sangue ferveu nas veias
Eu calcei um par de esporas
E passei a mão na peia
Peguei o mestiço a unha
Rolei com ele na areia
Enquanto ele esperneava
Fui apertando a correia
Mas quando sentei no lombo foi que eu ví a coisa feia
O boi saltou a porteira
No primeiro corcoviado
Numa ladeira de pedra
Desceu pulando furtado
Saía línguas de fogo
Cheirava chifre queimado
Quando os cascos do mestiço
Batiam no lageado
Parou berrando na espora ajoelhando derrotado
Pra cumprir sua promessa
A moça veio ligeiro
Me disse: Você provou
Ser peão de boiadeiro
Dos prêmios que eu vou lhe dar
O beijo é o primeiro
Sua boca foi abrindo
Seu olhar ficou morteiro
Nessa hora eu acordei abraçando o travesseiro