Se, um dia, de repente, os três reis magos
No meio do caminho, por nossos pagos
Se dessem conta que brinquedos tão preciosos
Tão bem feitos
Merecem tratamento especial, com outro tipo de proveito
Se um dia, de repente, os três reis magos
Se um dia Baltazar, morto de cansaço
Descesse do camelo pra dar uns passos
E, recostado numa nuvem, com livrinhos e bonecas
Fingisse não saber de nada
Estava só tirando uma soneca
Se um dia Baltazar, morto de cansaço
Se, um dia, arrependidos de suas bondades
Pensassem nas suas próprias necessidades
E não contentes com dar alegria aos pequenininhos
Arrebanhassem todos os triciclos, todos patinetezinhos
Se, um dia, arrependidos de suas bondades
Se o rei mago Belchior, tão velho e barbudo
Quisesse, de repente, jogar o Ludo
Ou, se com olhar de obsessão desenfreada, se pusera
A dar corda em algum trenzinho
Ou montar num cavalo de madeira
Se o rei mago Belchior, tão velho e barbudo
Se, um dia, desviasse dos três a vista
Uma estrela impostora, personalista
E lhes dissesse:
“Três reis magos, pensem no que estão fazendo!
Não podem presentear com tudo!
Dêem-se conta do que estão perdendo!”
Se, um dia, desviasse dos três a vista
Não quero que, com isso, te decepciones
Até porque são só minhas suposições
Os três reis magos são teus pais, tu sabes
Dorme, fica grato
Que, por enquanto, ninguém está pensando
Em te deixar num orfanato
Não quero que, com isso, te decepciones
Eu só imaginava um Dia de Reis
Em que não presenteasse nenhum dos três
E repentinamente enfermos de uma estranha egolatria
Montassem em sociedade
Uma lojinha chamada Santa Maria