Olha ai a palafita
Crescendo sobre a maré
O homem que nela habita
Caranguejo, peixe é
Caranguejo que se emana
Os bichos dos lamaçais
Na condição desumana
De sempre andar pra trás
E sempre que ele deixe
De ser tudo que ele é
Vai de caranguejo a peixe
Na enchente da maré
Olha ai a palafita
Crescendo sobre a maré
O homem que nela habita
Caranguejo, peixe é
Não sabe dizer se existe
Não sabe dizer o que é
Para solitário e triste
Olhando para a maré
Sabe com que tudo na vida
Vem e vai, vai-se a aldeia
Como da maré caída
E o canto somos de areia
Homem na luta impossível
Tantos ventos o consomem
Quando esta abaixo do nível
Do mar e do próprio homem
Olha ai a palafita
Crescendo sobre a maré
O homem que nela habita
Caranguejo, peixe é
Ali em cima da lama
Da maré vazante ou cheia
O homem se cita e ama
Pois outra maré o ilheia
Uma outra maré de ventre
Em cegueira de que há
Despeja povo doente
Pernas abertas ao mar
O mangue então se povoa
Torna-se nação imensa
Onde ha mares pingentes
Cumprindo a mesma sentença
Olha ai a palafita
Crescendo sobre a maré
O homem que nela habita
Caranguejo, peixe é
O homem será o menos
Bem menos do que já é
Pois tem bichos da terra
E animais da maré
Será concha? Será alga?
Caramujo, caracol?
Será o que a maré salta
Para ser comido ao sol
Ou nada disso será
Por não ser o ser que é
Caranguejo dentro do mangue
Ou peixe lá na maré
Olha ai a palafita
Crescendo sobre a maré
O homem que nela habita
Caranguejo, peixe é