REFRÃO: essa aqui é da cidade ácida de onde eu vim (urbália) a cidade ácida de onde eu vim.
ouvindo o som do trânsito aqui do décimo-segundo andar, parece pra caralho com o barulho do mar. meu olhar tá nos carros e tudo mais no viaduto, delineio toda a forma de um robô robusto, deitado, sonhando mas prestes a despertar. despertador dispara o alarme: hora de sair pra andar. hélices no ar- furiosas, velozes. separo o som em canais: metais, motores e vozes. mas mesmo em pleno caos, sempre rolam prêmios: muros novos pintados por flip, nina, vitché, gêmeos. cores no céu- lilás, azul, rosa e mel- o tom suave das nuvens envolve tudo como um véu. pichações aos milhões em todas as sessões, na cidade sem exceções. identidade das ruas- uma única textura, tatuando tradições e driblando viaturas, pra lançar a real mas pura, de quem já não atura calado a vida dura. isso que é contra-cultura. quando a percepção se altera no meu aparelho ótico, pessoas parecem com bichos dentro de um zoológico. répteis, aves, roedores, felinos, num mesmo habitat, diferentes destinos... extraio meu mosaico da cadência desse cenário, daqui do nosso império pra todo e qualquer stereo.
REFRÃO: essa aqui é da cidade ácida de onde eu vim (urbália) a cidade ácida de onde eu vim.
e digo ácida como a chuva que cai e corrói-corrói a cabeça desprotegida do playboy, motoboy, bboy e todo tipo que transita nessa porra e habita mansão, prédio ou palafita, e forma a teia esquisita que se chama são paulo. eu não dou pala fita, e vou até o talo, direto do fundo do ralo para o alto e avante, cada som do mamelo pesa mais que um elefante, e mais, é elegante como a city antigamente, no tempo dos mutantes, diz aí rita lee: “eu juro que é melhor, não ser um normal”, adoro sair só pra passear no temporal. minha vida na real é uma história escrita, nessas ruas e avenidas, uma espiral de fatos, forma e cor distorcida. magia, lisergia ou qualquer coisa que o valha para ganhar a lança total dessa insana urbália, a cidade ácida de onde eu vim.