Vi hoje a Tia Dolores
Veio falar-me dos filhos
Cheia dum prazer profundo;
Porque esses seus dois amores
São os únicos atilhos
Que a trazem segura ao mundo
O João é marinheiro
Um rapagão denodado
Que anda sempre a navegar
É um moço prazenteiro
No seu olhar esverdeado
Andam vestígios do mar
De olhos azuis, o segundo
Mais novo do que o João
É um cabeça no ar
Nunca se prendeu ao mundo
Quis ir para a aviação
E leva a vida a voar
Assim, a Tia Dolores
Conta, não escondendo as mágoas
Que a envolvem como um véu
Os olhos dos seus amores
Um é verde côr do mar
Outro, azul da côr do céu
Ela procede aos amanhos
Duma casinha na serra
Aonde espera morrer
Velhinha de olhos castanhos
Castanhos, da côr da serra
Da terra que a viu nascer
Um, tem olhos côr do mar
Outro, olhar azul divino
No céu, no mar, andam escolhos
Eu então fico a pensar
Se a gente segue o destino Que diz bem á côr dos
olhos