De onde avisto a querência, o açude é um céu dentro d´água
lâmina azul, refletindo, tudo o que o tempo deságua.
Aprisionado em limites, contido, longe se espelha
pois entre as duas coxilhas, surge uma várzea parelha.
Tudo que o céu guarda em si, o açude mostra também
menos as suas vontades, de querer ir mais além.
Quando um desaba no outro, com temporal e tormenta
acordam as sangas por diante, deixando a água barrenta.
O açude em águas calmas, é tudo o que o céu quiser
pois vive das suas chuvas, duma nascente qualquer.
Nas margens de grama verde, o gado pasta a planura
e mata a sede das tardes, bebendo o céu nas lonjuras.
O céu se pinta de estrelas, em águas anoitecidas
que a lua deixa de manso, um risco em luz, refletida.
São nestas horas, que a noite, fica o olhar calmamente
o bote de uma traíra, contra uma estrela cadente...
O vento que empurra as nuvens, faz maretas no açude
e o céu, não para espelhado, torcendo que o tempo mude.
Vão os dois pra o mesmo lado, até chegar na vazante
o açude, para na taipa, e as nuvens seguem por diante.
O açude é um céu dentro d´água, e a mesma cena ao inverso
guardando dentro um mistério, que existe em seu universo.
Que as garças, que voam longe, levam o céu pelas asas
depois, devolvem ao açude, pousando nas águas rasas...
Passa tanto céu na água, e o açude segue o mesmo...