Tão logo a noite vai embora das campinas
Por onde aranhas desceram suas cortinas
E o sereno vem brilhar nestes mundéus
Voltam as cores na aquarela deste dia
E o verde se estende pelas sesmarias
Até que no horizonte encontre o céu
Entre a folhagem o Sol espia sorrateiro
E eu me embebedo nas manhãs deste janeiro
Nas alegrias que me trazem os verões
Olho na sanga deslizando entre as pedras
Igual a um potro que ainda desconhece rédeas
Um lambari que vai fazendo evoluções
De alma aberta embora só não me sinto sozinho
Escuto arrulhos de uma rola ali pertinho
Feito censura às formigas cortadeiras
Que surpreendidas pelas águas do caminho
Vão navegando sobre folhas de mansinho
Tal qual balseiros nestas águas corredeiras
Cada pedra que encontrei pela estrada
Eu recolhi pra alicerçar minha morada
Neste universo que é o pago onde nasci
Tenho de tudo que preciso pra viver
A terra boa, boa semente e um bem querer
Com quem um rancho pra dividir eu escolhi
Enquanto as águas correm livres pela sanga
E a brisa morna traz um gosto de pitanga
Ao mesmo tempo em que balança o alecrim
Mantenho a esperança sempre acesa
Desfruto desta vida com a certeza de que
Tudo é bonito, basta querer ver assim