Horas mortas, noite escura,
Uma guitarra a trinar,
Uma mulher a cantar
O seu fado de amargura.
E através da vidraça
Enegrecida e quebrada,
Aquela voz magoada
Que entristece a quem lá passa.
Vielas de Alfama,
Ruas da Lisboa antiga...
Não há fado que não diga
Coisas do vosso passado.
Vielas de Alfama,
Beijadas pelo luar,
Quem me dera lá morar
P'ra viver junto do fado.
A Lua, às vezes, desperta
Que apanha desprevenidas
Duas bocas muito unidas
Numa porta entreaberta.
E então a Lua, corada,
Ciente da sua culpa,
Como quem pede desculpa
Esconde-se envergonhada.