[Intro]
"Vamos, não chores"
Destruí o nosso
Desmoronei o nosso lar
Mas me deixa entrar
"Tudo somado, devias
Precipitar-te de vez nas águas
Estás nu na areia, no vento
Dorme, meu filho"
[Parte I]
Soltei as rédeas que guiavam minha mente
Como é bom não desejar estar em outro lugar
A vida é mais bonita no presente
Adiar o bem faz mal
Foi a distância que mudou nossa estação
E quem me levará sou eu
Deixo o mar furado e volto para me refrescar
Minha alma por hora fica sem pesar na cidade sem amor
Mas a ausência fica firme onde eu for
"A ausência é um estar em mim
E sinto-a branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços
que rio e danço e invento exclamações alegres
Porque a ausência, essa ausência assimilada
ninguém a rouba mais de mim"
[Parte Ii]
Eu tô trancado num seno fadado a oscilar
Lembrando o tempo tão negro da serra
E eu até voltei pra provar que venci mas fingi
Jogo com as cartas que tenho
E se eu não tenho mar
Tenho caminhos tão cegos, tão tortos
Que podem levar a Pasárgada
Sei lá, vou tentar
E esse cinza no céu só da saudade daí
E se eu deixasse o ouro e ficasse um pouco mais onde eu queria estar?
*Os trechos de poemas recitados são de autoria de Carlos Drummond de Andrade