O sexo dos anjos 'inda não foi descoberto
A água do deserto nunca quis se revelar
A vida se revela quando o olho tá aberto
A vida nunca pede permissão para passar
A borboleta azul na sua perna (atrevimento!)
Achou que era um vale e nunca mais tentou voar
Careca de peruca não resiste a pé de vento
A chuva nunca pede permissão para molhar
É que a chuva nunca pede permissão para molhar
O sexo do poeta com a palavra vai dar certo
A língua portuguesa já é moça pra "casá"
E logo a tua boca grande vai chegando perto
O desejo nunca pede permissão para cutucar
Se essa velocidade causa descarrilamento
Não bota o pé no freio que é pro trem não capotar
Não vale fazer gol se o cara tava em empedimento
O dia nunca pede permissão pra te acordar
É que o dia nunca pede permissão pra te acordar
O rio sinuoso vai transando com a campina
Cavalo só tem crina pra você poder pegar
O cheiro do molhado já inundou tua narina
O beija-flor não pede permissão pra beijar
Roqueiro quarentão aposentou seu instrumento
Falou: "eu não agüento mais ser jovem, vou parar"
E a natureza doida pra tecer mais um momento
Criou mais uma concha jogou na beira do mar
É que a vida nunca pede permissão para passar
Eu conheci um inglês que namorava madalena
E a flauta da pequena resolveu desafiar
Ficou meio maluco meio rádio sem antena
Deu beijo na morena resolveram se casar
E o branquela se casou com a mulata do nordeste
Inglês cabra da peste, liverpool no ceará
Tiveram quatro filhos: paulo, antão, zico e celeste
A flauta nunca pede permissão pra pontear
É que a flauta nunca pede permissão pra pontear.