Quando o dia inteiro amanhece
E depois de uma lua cheia
O assombrado cego aparece
E a viola logo ponteia
O assombrado cego Benedito
Desponta e assusta a passarada
Vingando a luz que falta aos olhos
No riso louco que propaga
Eh, mô fio
Eu te enxergo com o coração
Bom dia cego Benedito.
- Bom dia, fio.
Cego Benedito,
eu tô pensando em ir embora pra outras terras
e queria saber se tu acha certo.
-E que que tu que que eu responda fiô?
O que tu achar que é direito.
- E é direito não deixar que se erre pra que se aprenda?
E é direito deixar que se erre e se arrependa sem se aconselho?
Eu não atino o que é direito por isso não respondo.
Mas eu quero teu conselho. Se fosse eu o que é que tu faria?
- Perguntaria a um cego amigo o que fazer.
E o que este cego te responderia?
- Exatamente o que acabei de responder, fiô..
Mas se tu ainda fosse eu e o cego respondesse
exatamente o que acabou de responder?
- Desistia de perguntar.
E aí fio, eu pensava que realmente o que se quer saber
não se pergunta. Arranca-se do seio da terra até sentir o cheiro.
Se te agrada, fiô. Se te espanta vá.
Mas não arranque essa cabeça do ombro
pensando que assim vai ver mais alto.
Não arrede essa perna do tronco
pensando em chegar mais cedo,
e não procure distante o que já tem do teu lado.