O fim é o início de tudo
O início é o princípio do fim
Eu canto da boca de um mudo
E um surdo escuta por mim
Um cego me guia nas ruas
E um cocho me apóia o andar
Mendigo sustenta minha vida
E um santo me ensina a roubar
Sou cão que ladra e morde
O ódio me alimenta de amor
Minha vida em mãos dadas com a morte
Minha ferida se cura com a dor
São mão que bate e afaga
Brisa trazendo o temor
Bainha que esconde a adaga
A água que murcha tua flor
Colchão de faquir, minha cama
Tristeza me faz gargalhar
Minha febre se esfria na chama
E o fel me adoça o paladar
Sou um ditador submisso
Me visto completo de nu
Sou tudo que o nada permite
Bússola que aponta a sul
Sou a bala perdida do alvo
Sou o alvo que a bala não quis
O alvo procura outra bala
E a bala, um homem feliz
Futuro de um tempo passado
Passado que ainda virá
O verbo, o espaço e o tempo
Presente que não passará