GRITOS E ESCRITOS DE UM RATO-MOR
(Gustavo Haddad)
Eu represento o perigo
Eu me permito rezar
Não creia em tudo o que digo
Pouco é o que pode esperar
De um juízo nas sombras
Dos ecos no ar
Vivo um antigo fetiche
Tramas de um cego avatar
Meu corpo pulsa e respira
Oculto num brilho que jaz...
Jaz no dorso das ondas
Que fogem do mar
Tenho observado a dor que não me exime
Há dias que eu nem sei quem sou
Exímio defensor, também autor do crime
De corpo e alma, um grande ator
Mundano, besta-fera à venda em seu desejo
Louco, bêbado e infeliz
De mais a mais...
Insano, algoz quimera, ofensa, um gênio negro
Um vil segredo, a diretriz de sol a sol...
Num céu azul
Sou talvez como um urubu furando as nuvens
Majestoso furta-cor
Matiz de inconsciência, o eterno lobisômem
Poema de acre-doce amor
Sublime alegoria, duvidalegria, escaravelho feito Tropicália Song
Divino, por que não (?), da morte, algum conselho
Um navegante coração me leva-e-traz
Eu sou mais eu...