Tenho uma casa vazia
com gavetas no telhado
perco tempo, perco o dia
a olhar para o lado
Da janela vejo o rio
rio do que vou fazer
desligo e ligo o telefone
se me apetecer
Desço a escada
volto à tarde
ando à roda com tonturas
tomo as gotas da tensão
vou planear
as loucuras que não fiz
as ideias que não tive
os encontros a que vou
mais os que vi
Digo o que me sai da boca
ouço aquilo que quero
a pensar se assim não fosse
como é que seria
Tenho uma vida de só
ou de mal acompanhado
ou de noite pela noite
até ficar cansado
De manhã não faço o tempo
mas tenho de o ocupar
se esta luz fáz mal aos olhos
eu não vou olhar
Olho para um dos lados
já não sinto o que sentia
porque é que eu não sou capaz de responder
nem para mim
nem para ninguém que o que eu quero
é tão vulgar
e ninguém tem
ou serei só eu a não ter porque...
É assim:
Tenho uma casa vazia
com gavetas no telhado
perco o tempo, perco o dia
a olhar para o lado
Da janela vejo o rio
rio do que vou fazer
deslido e ligo o telefone ao entardecer
Desço a escada, volto à noite
vou subir mas às escuras
tomo coisas para dormir
vou descansar torturas.