Tu não sabes quais são minhas preces
Quando me apareces meigamente santa!
Canta a lágrima do meu desgosto
Quando ao ver teu rosto, sacrossanta cruz
Ele encanta, me seduz, fascina!
Osculá-lo almejo! Sensação divina!
Vem! Consente que eu, virginalmente
Guarde um simples beijo nesse altar de luz!
Teus olhinhos são dois passarinhos
Dolorosamente beliscando a gente!
Beija-flores que nas minhas dores
Vêm beber o sangue desse meu sofrer
Neste pobre coração magoado
Todo beliscado nos azuis refolhos
Vêm teus olhos a sorrir, tristonhos
Nos meus tristes sonhos, nos meus ains bulir
Basta que eu ouça o teu falar
Para uma estrela em mim… Brilhar!
Eu ouço o mar e a voz dos céus
A voz queixosa de uma rosa, orando a Deus!
Minha alma, louca, por te amar
Enche-me a boca a te escutar!
E quando um beijo vou roubar
Foge a tua boca, para não m'o dar
Não sei por que a minha dor
Sente se falas tal condão
Que se transmuda numa flor
E logo, em flores, a comprimir meu coração!!
Vendo-te bela e meiga, assim
Fico com pena até de mim!
E quando um beijo vou roubar
Foge o teu rosto
Para não m'o dar
Si o teu rosto que de mim se furta
Quando leva um beijo, cheira
Mais que a murta!
Quem o beija de manhã, primeiro
Sente logo o cheiro matinal da flor!
Teus cabelos, com que a fronte enlutas
Cheiram mais que as
Frutas dos vergéis rorantes!
E essas gotas de suor, brilhantes
Cheiram mais ainda que os cristais da flor
Vens ao longe? O teu rosto flutua
Eu vejo nele a Lua que, num casto véu
Toda envolta num saudoso fluido
À noite, num descuido, nos caiu do céu
Dos sorrisos que, chorando, afago
Vêm desabrochando no teu rosto mago
Vejo os frisos que o favônio brando
Faz, assim, brincando de um lago à flor
Mudas liras, solitárias liras
Com teu rosto inspiras – divinal Castália!
Ai, que gosto ver assim teu rosto
Como a simples dália de amarela cor