Eu venho dos campos verdes
Onde canta a primavera
Sou a saudade primeira
Olhando os olhos do tempo
Sou água azul das cascatas
Que brota por sobre os montes
E o verdejante das matas
Brilhando no horizonte
Ai
Sou herança do rangido das cancelas
E sobra de muitas guerras
Eu sou o rastro do boi
Na estrada de chão batido
E o carro nunca esquecido
Das carreadas que já fez
O cantar do quero-quero
E o mugido da boiada
Estrela da madrugada
Na trilha de um camponês
Ai
Sou herança do fogo de chão rasteiro
E lágrimas de um carreteiro
Eu sou o véu da esperança
De um sonho ainda menino
Sou alma de peregrino
Buscando o rumo da sorte
Sou ancião desta terra
De cabelos prateados
E o grito desgovernado
Do vento que me governa
Ai, ai, ai, ai
Sou herança, machado que corta fundo
Entre as entranhas do mundo