Ninguém passou na vida
O que eu passei, o que eu sofri
Carregando pedra
Lá em Japeri
De ganhar a vida
Só pegando tatuí
De penar na fila
Do pam do Andaraí
Ninguém passou na vida
O que eu passei, o que eu sofri
De ser pensionista do IAPI
De morar com sogra
Aturando ti ti ti
Carregando mala
Descascando abacaxi
Ninguém, ninguém, ninguém
Pode crer, meu compadre, que não tem
Já andei a pé de Del Castilho ao Cachambi
Cheio de saúde fui parar no CTI
Já toquei cuíca pra cantar "sabor a mi"
Já fui figurante de novela da Tupi
Já fui convidado a fazer harakiri
ninguém vai poder me dizer "esse filme eu já vi"
(ninguém)
Ninguém, ninguém, ninguém
Pode crer, meu compadre, que não tem
Já fui reprovado em concurso pra gari
Até num terreno lá na lua eu investi
Já banquei honesto lá na feira de acari
Ganhei uma mina, só que era travesti
Um psiquiatra me deu zero de QI
Ninguém vai poder me dizer "esse filme eu já vi"
(ninguém)
Já fui enquadrado até na lei de Murici
Fui pegar cipó e me enrosquei na sucuri
Já fui promovido e transferido pro Chuí
Cavalguei em mula no sertão do Piauí
Eu já peguei dengue em mordida de siri
Ninguém vai poder me dizer "esse filme eu já vi"
(ninguém)
Ninguém, ninguém, ninguém
Pode crer, meu compadre, que não tem
Isabelly Barbosa Pereira,