Eu não sei nem de escuro nem de aurora
Eu que trabalho em turnos noite e dia
Confundo o viver dentro e o estar por fora
E sempre a solidão por companhia
Eu que trabalho em turnos dia e noite
E apenas a saudade por açoite
Eu que trabalho em turnos dia e noite
E apenas a saudade por açoite
Ao frio e ao calor tive agasalho
Se muitos ou tão poucos, é conforme
Às vezes, ao sair de dois trabalhos
Um vento leve faz-se um vento enorme
Conforme ficam pensamentos muitos
Sem espaço para essenciais assuntos
Conforme ficam pensamentos muitos
Sem espaço para essenciais assuntos
E eu só vejo os meus filhos ao domingo
São curtas horas para um tão vasto vazio
Ou volto à televisão ou vou-me ao bingo
Só sei que p'lo caminho sinto frio
São longas horas de um vazio vasto
Da esperança só o sentimento gasto
Onde é que irei buscar força de vida
P'ra em casa me encontrar na minha rua
E ao espelho olhar a cara prometida
Que nas vicissitudes continua
A procurar na rua a sua casa
E à lareira olhar o fogo em brasa
Eu que trabalho em turnos dia e noite
E apenas a saudade por açoite
A procurar na rua a sua casa
E à lareira olhar o fogo em brasa