Fui morar lá na cidade
Estranhei longe da estância
Tive febre, me deu ânsia
Adoeci com tanto luxo...
Minha cura está lá fora
Onde o ar da madrugada
E o prazer da chimarreada
São remédios pro gaúcho.
Ninguém me tira daqui
Nem com temporal de raio
Foi na grota que eu nasci
Morro e do campo não saio.
Quando o sol reponta o dia
A noite então desvanece
E o gado logo aparece
Já dispensando o capão...
O calor dissolve a geada
Sanga e mato enfumaçados
O campo é um quadro molhado
Nas retinas deste peão.
Ninguém me tira daqui...
No preparo da lavoura
Uso arado e bois de canga
Só tomo banho de sanga
E bebo água da vertente...
Pra sustentar a família
Desdobro-me nessa guerra
Aquartelado na terra
Sou um soldado de frente.
Ninguém me tira daqui...