Um dia saiu lá da roça
Tão humilde palhoça um jovem rapaz
Dizia ter recebido
Uma graça divina, ia espalhar a paz
Tornou-se um poeta andarilho
Pelo seu caminho semeou o amor
E mesmo às vezes zombado
Entregava ao irado um botão de flor
Escrevia em pequenos folhetos
Versos que o mundo nunca houvera lido
Juntava os velhinhos no asilo
E pra cada um deles se passava por filho
Nunca ficava irritado
E quando humilhado não guardava rancor
Sabia e acreditava
Que para ser bom tinha que sentir dor
Na sua mochila trazia
Pra dar ao faminto um pedaço de pão
E achava bonito a fome
E às vezes passava alimentando um irmão
Jamais tivera preconceito
E carregava no peito um amor de verdade
Um calor que aquecia
A carência mais fria da humanidade
Um dia um velhinho acabado
Num canto largado doente demais
Chorava ao ver que findavam
Seus dias na terra pra espalhar a paz
Já sem poder ver, ouvir
Sem falar, só sentir, se entregou ao Senhor
Foi amparado por um menino
Que lhe disse sorrindo, serei seu sucessor