Da pequena areia que rola no vento
Do pequeno cílio do olho levantado
Na pegada esquecida ao relento
Na folha de árvore que entra no quarto
No sorriso simples e disfarçado
Na ato de qualquer sentimento
Ou quando a gente é mesmo lembrado
E lembrando se transforma em momento
Quando os insetos voam no escuro
Quando penso em escrever o que falo
Quando falo mais do que escuto
Ou quando nada mais pode mudar o quadro
A moldura simples de um retrato
Aquilo que deixa de ser absurdo
Meninos pedem esmolas esfomeados
Realidade que não há entre muros
O que lá fora tem pra ver
Eu não sei
O que lá fora tem pra viver
Talvez o sentimento
De ver o que ninguém quer ver
Eu vejo crianças nas ruas
Com palavras absurdas
Mal vestidas quase nuas
Pedindo pão
Eu vejo criança pedindo esmola
Com lata de coca-cola
Viciado em drogas
Que situação
Eu vejo no meu dia a dia
Bairros de periferia
Aquilo que eu não queria
Para a nação
Gente preocupado
Em votar em deputado
E a criança ao seu lado
Sem luz, sem ar, sem razão
Eu não sei
O que lá fora tem pra ver
Eu não sei
O que lá fora tem pra viver
Talvez, o sentimento
De ver, o que ninguém quer ver