"1994 viaduto dr. arnaldo, 02h00 da manhã
Eu ainda estou acordado
Já é de madrugada eu avisto o céu sem estrela
Me dá mó revolta embaixo de tudo
Eu me sinto nessas horas estou com fome
E frio pagando mó veneno eu preciso respirar
Que é pra ter coragem
E lá vem a tempestade castigar
E arrastar esta imensa cidade
Só de lembrar o tempo
Que eu era alguma coisa para esta sociedade
A vida me mostrou outra realidade
Depois que eu caí aqui, cadê o amor?
Onde estão meus aliados agora?
Mano é embaçado, quantas palavras
Foram lançadas
Quando ainda trampava
Eu tinha boa grana
Estou de olho como águia eu avisto de longe
A minha quebrada
Aqui neste lugar é um verdadeiro inferno
São pessoas que largaram seus familiares
Na esperança de vencer
Aqui na selva de pedra
Pra que valeu todo esforço da diretoria?
Eu não entendo, não compreendo
Quantas famílias nesse momento dormindo
Ao relento com fome e frio
Aí acorda meu brasil!
A minha vida não foi conto de fada
Aos dois anos minha coroa tinha me deixado
É breakdown, pra tudo Deus
Tem um propósito irmão
Que propósito é esse?
Morar no interior, ser chamado de febem!
O meu progresso na escola
Foi de mal a pior
No dia da visita todas
As crianças recebiam lembranças
Papai noel cansou de receber
As minhas cartas com sinceros apelos
Papai noel, eu não quero nada desta vida
Só quero encontrar meu pai
Minha mãe, minha família
Hoje a casa caiu!
Os menores foram para o quarto
De um a um foram molestados
Choro e chicote estralando mano
Os anos se passando
Tinha uma pá de zé povinho
Que não gostavam de mim
Uma história de dor, qual é seu nome?
Maldito é o homem
Que confia em outro homem
[refrão]
Deus me ajuda lutar
Pois minha mãe me deixou num mundo de dor
Eu quero encontrar
Eu quero encontrar
Vamos lá, está tudo sobre o controle
Apesar do meu nome ser arranjado por um juiz
M. a. d. s
Foi como colocar nome em cachorro
Fácil de mais para o sistema
O que eles querem ver é mais um?
Negão? com algemas, prepara o seu coração
07h30 da manhã, é hora do café
Meio dia, o sinal da sirene anuncia
É hora da chepa, mó biqueira essa merenda
Mó sol, daqui a pouco eles recolhem os menores
Contam cabeça como gado
Número 11, aqui
Número 15, ali
27, Ainda não fugi
Quanta injustiça eu sofri
Presenciei, no centro de são paulo
No vai e vem
Eu era um filho das ruas
Já fazia uma cota que eu saí da febem
Aí tio, minha visão não era pequena
Eu confesso o descaso da humanidade
Criança sem esperança
Mulher com criança no colo
E eu sentado só na sarjeta
Observando: um tiozinho na cadeira de roda
Pedindo esmola muita calma nessas horas
Você reclama da sua vida
Mas não tem coragem de olhar a sua volta e ver
Quantas chances Deus te deu
[refrão]
Deus me ajuda lutar
Pois minha mãe me deixou num mundo de dor
Eu quero encontrar, eu quero encontrar
Mãe, hoje eu tenho 30 anos
Tenho dois filhos
Michael e noemi vivem perguntando cadê a vó?
Eu fico imaginando na madrugada de hoje
Onde a senhora estaria mãe?
Sabe apesar de morar no orfanato
Dos dois aos dezoito
Depois fui morar nas ruas
Mas graças a Deus hoje estou vivão mãe
Estou esperando sem rancor
E com puro amor no coração
Pois eu quero te encontrar mãe
De braços abertos. "