Mais uma vez é hora de lavar a alma e por pra secar
Sangrar o coração pra ver se a mágoa sai de lá
Falar pra mente que saída não é lamentar
E pros irmãos que a nossa hora ainda vai chegar
Se é pra sofrer vamos chorar com a tinta no papel
Deixar alerta o sofredor sobre o opressor e o fel
Sobreviver no inferno só pra merecer o céu
Eu morri Raphael pra poder renascer Hael
Eu sei o mundo não mudou mas mudei minha postura
E dependendo do seu estilo ou cor cê toma dura
A viatura da cidade cinza tem branco e preto
Com giroflex que reflete o vermelho sangue no gueto
Sem acordo ou com acerto eles acertam sem dó
E o pior que a maioria envolvida é menor
Com um sonho de conquistar tudo que a ambição pediu
Cansou do farol que ir pra Oz, me ajuda tio
E quem não quer? diz pra mim, viver melhor
E a saída na mente de alguns é vender pedra e pó
Mistura perigosa de dinheiro fácil e sorte
Um caminho, várias portas, muitas levando pra morte
Ora! Não vejo muita diferença dos bacana
Que corrompe e engana
buscando lucro a qualquer custo e fama
Os diamantes vêm da lama, mantenha-se bruto
Se a sociedade lapidar cê se perdeu no luxo
É interessante a reação de alguns quando em evidência
Luta vira disneylandia e acaba a resistência
A gozolândia é uma cegueira que só finge apagar
O sofrimento de toda uma existência
Para e pensa! E não confunda nunca!
Briga não é luta, vitória não é conquista suja, entenda!
Minha oferenda é lealdade, axé
E o castelo é fortaleza de madeira e fé
E assim que é, bem quisto pelos amigos
Mal visto pelo bicos
amarguem seus sorrisos que tamo de pé
Contrariando as estatísticas recentes
Números crescentes, genocídio afrodescendente
Corpos pardos mortos acumulam no Iml
Pro Estado não há nomes, só há números de série
Meu povo no sufoco vai morrendo sem saúde
Segurança, estudo e esperança isso também me fere
Abraço a causa expondo as causas que causam revolta
O rap sem efeito é só enfeite é só lorota
Deus abençoe a luta, que seja padrão fifa
As creches, hospitais, escolas de todas perifas
Pra quem desacredita a ideia é chapa quente
Não vai ser doce pra quem ficar moscando na frente
A luta é justa é por justiça que não temos no jogo
Da democracia onde o poder mata o povo
E ainda assim o pobre tenta ser honesto
Humildade e dignidade é o seu maior protesto
Contra um sistema de valores só nas contas
As crenças nas notas e assim a ganância desponta
Ter roupa de marca levanta a autoestima
Dos mano e das mina se a mente tá fraca
No shopping ou na praça, nada vem de graça
Dinheiro e moda criam manequins, mó farsa
Me nego simplesmente a viver nessa ilusão
Me chamam de louco, confundo os sábios sendo são
Aqui não! Seu dinheiro não compra, óh
Aqui não! Seu status não conta, dó
Faz a aposta e no final eu provo pra você
Sinônimo de vitória é não se corromper
Nove de abril, eu faço a ponte, Sp, Rj
Formulando perguntas antes de buscar respostas
A inocência de criança ficou no passado
Guardado, lembranças doces e fatos amargos
É muito louco como o rio da vida corre
E num piscar de olhos a esperança agora e morre
Cê fica de ressaca irmão, sem tomar um porre
A vida cobra se ficar o bicho pega, corre
Corre e vai buscar seu bom lugar
Fé em Deus mas não se esqueça
só tuas pernas te farão chegar
Só pra te lembrar, se amedrontar
Jamais a sina do covarde é morrer sem tentar
São Paulo é uma selva e nessa terra eu sou leão
Se a vida der em dobro eu vou dividir com os irmãos
Morô? Então, por vezes me senti um nada
Mas sofrimento é crescimento e faz parte da estrada
Na contra mão a ilusão vem bela e camuflada
Quanto mais doce mais a realidade fica amarga
E a vida desanda, caráter não enche
Barriga das crianças, a fome é o demônio no pente
É quente acontece mas outros se entregam
Se jogam de testa, febre da moeda
Sem medo e sem dó, visando um qualquer, os menor
Necessidade? Não! Aqui ostentar é bem melhor
Demanda e oferta é venda certa, veja só
Moleque novo e no bolso as de cem, vende pó
E a culpa é de quem? Da onde as armas vêm?
Se a droga não nasce no morro a história vai além
A favela é o refém, importar arma é inviável
Quem discorda, convém, miséria ainda é favorável
Usam o pobre de laranja isso a Veja não mostra
Bancam a guerra e pedem paz as chances são remotas
Futuro é um mistério, morrer é natural
Mas não pense que a guarda vai tá baixa pro seu mal
Que visa lucro, status e fama
Famílias de luto e a vingança inflama
E a gente aqui se vira pra viver nesse sufoco
Que vida loka na visão de mais um louco