Na boca da avenida, bem no centro da cidade
Lá vem ela com pinta de estudante calourinha
Não sei de que colégio, que cursinho ou faculdade
Só sei que eu queria que ela fosse aluna minha
O cabelinho dela e uma tentação pro trote
Levinho, liso e louro escorrendo no decote
Mas o que me põe mais bobo, mais tonto,
mais doido nela
É aquele tênis preto amarrado na canela
Franjinha sobre os óculos, boquinha de chiclete
Nariz arrebitado, saia acima do joelho
Deve ter mais de vinte e aparenta dezessete
Se ela e coelhinha, eu queria ser coelho
A cinturinha dela parece de tanajura
De olhar já dá formigamento na musculatura
Mas o que deixa ourissadíssimo este magricela
É aquele tênis preto amarrado na canela
Eu fico só pensando nela sem aquela blusa
Mamãe me amamentando e eu encolhido no colo
Sem saia deve ser alguma coisa tão confusa
Que nem Serra Pelada com metrô no subsolo
Nua de corpo inteiro é uma fotografia aérea
Da via Anchieta atravessando a Sibéria
Só tem mesmo uma coisa que eu não tirava dela:
É aquele tênis preto amarrado na canela