No tempo da minha vó
Não tinha secadora
Também não tinha
Máquina para lavar
Ela lavava a nossa roupa
Na pedra do rio
Aproveitava o estio
Para ensaboar
E o dia inteiro
Ela esfregava e cantarolava
E as meninas se juntavam
Para mergulhar
De vez em quando uma bronca
Deixa de folguedo
Aproveita que ainda é cedo
E bota pra quarar
Aê, aê, um, dê, rê, iá
Aê, aê, aê
Undê, rêiá
Eu passeava de canôa
Ouvindo a cantoria
Eu remava, ia e vinha
Em direção ao mar
Eu pescava muitos peixes
E ela sorria
Se algum deles escapolia
Não dava pra fisgar
Isso as vezes acontece
Com os nossos sonhos
Com o tempo que passou
E nunca vai voltar
A alegria aumentava
E nessa folia
Os passarinhos também
Vinham pra gorgear
Aê, aê
Hoje eu moro na cidade
Num apartamento
Eu relembro esses momentos
Que me fazem chorar
Minha corôa era tão simples
E tão gente bôa
Nunca me deixou a toa
Sempre a me cuidar
Ela dizia que menino
Ele vai ser poeta
E a certeza que ela tinha
Me fez acreditar
Nos valores que nos guardam
A alma e a vida
E realmente nessa lida
Eu vivo a cantar