Vez em quando eu me pego sonhando
Que estou regressando aos tempos de outrora
Fecho os olhos e apuro os sentidos
Escuto o alarido das aves lá fora
Ouço ao longe o trinar do curió
E o pio do xororó no capim da invernada
O rumor do riacho choroso
E o cheiro gostoso da terra tombada
Eu revejo com muita clareza
Mamãe pondo a mesa pro nosso jantar
A comida feita com esmero
Ainda sinto o tempero e o seu paladar
Aparece no meu pensamento
O potrinho cinzento que eu mesmo amansei
Lembro o dia que ele morreu
Porque a cobra o mordeu
Meu Deus quanto eu chorei
Me recordo de tantas passagens
E algumas imagens não saem da retina
O papai pondo pedra na binga
Perto da moringa, água pura da mina
Sobre a mesa o radio de pilha
Que a nossa familia escutava em silencio
Toda noite antes de ir pra cama
Se ouvia o programa Torres & Florencio
Meu recanto que era tão bacana
Virou um mar de cana de uma grande usina
Não existe mais peixes no rio
A indústria aboliu as aguas cristalina
Só restaram as recordações
Que viraram canções pra expressar a saudade
São lembranças que vão se apagar
Quando Deus me levar para a eternidade