A lua cheia e prateada
Cobre o campo que se expande,
Na noite quieta e gelada,
Prenúncio de geada grande.
Nem mesmo um pio corujento
Se ouve nesta invernia,
Êta julho friolento,
Que até a alma se arrepia!
Me enrolo no bichará,
Sentado ao pé do braseiro,
Entregue ao “Deus dará”,
Só um "baio" por parceiro.
Meu catre frio, lá no canto,
Não me encoraja a deitar,
Por mim, fico aqui no banco
Até o dia clarear.
Atiço o fogo de chão
Pra “mode” de não morrer,
Enquanto, cá no galpão,
Pelas frinchas, posso ver
O belo clarão da lua
Que alumia as invernadas,
Enquanto a pampa nua
Vai se cobrindo de geada.
A noite é linda por certo,
De inspirar os cantores,
Mas, pra quem anda liberto
De paixões e de amores,
A beleza do momento
Não aquece o coração,
Pois o frio brota de dentro,
Do medo da solidão.
Nessas noites de inverno
Tenho ganas de ausência,
Pois sinto perder o cerno
Nos julhos desta querência.
Se não fosse este apego,
Que se tem dentro da gente,
Tinha me alçado mais cedo,
Pra outro pago mais quente.
Mas quem vive na campanha
E tem a lida por sina,
Não adianta fazer manha
Porque a vida lhe arrocina.
Por isso já me imagino,
Amanhã quebrando geada,
No reponte do destino,
Pechando boi na invernada.