Querem me ver no chão, mas não sem dor
Querem me ver no chão, mas não sem dor
Com a manta ensanguentada do perdão
Entre a passividade escoltada e a sagrada delação
Ela ascende a ponta e traga um rojão
Não tenho medo do que possa vir
Eu vim do fundo e todo dia recuso trair
Meu plano é outro
Me preparo pro pior terror
Eu vou tirar a sua paz
Bate mais
Bate mais
Bate mais
Bate mais
Bate mais
Bate mais
Os meus amigos secretos são curiosamente competentes sobretudo no não ser
São tantas as palavras que eles inventaram
Pra classificar a temperatura agradável num dia ameno de verão
Os fluídos, a renda, nosso útero, a necessidade de abortar
Meus lábios, a saudade e o mar
Quanto a mim, quero mais é apanhar
Porquê todo o resto foi pouco e o que quero não é desculpa nem retratação
Quero toda a vingança que nos cabe
A vitória dos feridos, a orgia da semântica, o desacato à semiótica
A juventude insubmissa no cataclismo último do capital
Sou a garganta vermelha que abre e fecha caminhos
E são tantos os assédios que o primeiro ato não é poder falar
Porquê não se pode, ainda que se diga
O primeiro é carregar, porque como um rio doce
Estão todos afundados na lama da vida normal
Matheusa
Marielle
Vivemos
A violência é cerne e signo
Bate mais!
Bate mais!
Bate mais!
Bate mais!
A baca, cheia de dentes, morde a calçada, no vão das pernas
E a cinza, suja na cara, vem do cigarro preso entre os dedos
Que saem assaltando bancos, virando carros, tirando a limpo
O peso, o preço da culpa, o corpo marcado que ainda carrego
Aperto com as mãos em garra e afasto do escuro o rosto das teias
A carne em febre na pista, suor engasgado foge das veias
Rasgando a nuca molhada, os olhos fechados de pulso lento
Respiro o pó descascado da poeira seca que cai do teto (teto)
Bate mais!
Bate mais!
A tinta escorrendo amarga arde na empena dos olhos pretos, vivos, impressos
Arruda fresca no peito contra os canalhas de cano quente que não dão trégua
E encontro na madrugada amparo no esgoto que abastece a fábrica velha
Bate mais!
Bate mais!
Bate mais!
Bate mais!
Bate mais
Bate mais
Bate mais!