Os meninos dormem sob o viaduto
Os meninos nem sabem se vão acordar
Depois de tanta cola, cachaça e charuto
Pedras no cocuruto, porretes no altar
Praça da candelária, matriz ou da sé
Catedrais refratárias ao frio da ralé
O corpo agasalha amontoados de fé
São três meninos do breu
São três meninos de luz
São três pregos da mesmíssima cruz
Os meninos vieram num clarão de estrelas
Num foguete de espuma ou num catamarã
Os meninos embarcam num vagão da noite
Açoite no lombo com a luz da manhã
Nas ondas do rádio, nas ondas do trem
Desviam dos raios
São mais que ninguém
E cobram pedágio na esmola de alguém
São três meninos do mal
São três meninos do bem
São três filhos do mesmíssimo sem
Não tem bicho papão, nem tem velho do saco
Não tem obrigação, nem tem conto de fado
Lá na rua do não, bem em frente ao descaso
Na rua do não, em frente ao descaso
Os meninos se esfolam na seca da sopa
Os meninos se amam e se matam ali
Os meninos se rasgam quando a seda é pouca
Namoram uma louca, carregam um saci
Nas ondas do rádio, nas ondas do trem
Desviam dos raios
São mais que ninguém
E cobram pedágio na esmola de alguém
São três meninos em um
São três meninos talvez
Três histórias... Era uma vez